terça-feira, 25 de outubro de 2011

Escritor W. J. Solha irá distribuir seu novo livro

http://m.correio10.com.br/noticia/6202/escritor-w-j-solha-ira-distribuir-seu-novo-livro

Entretenimento,
Saturday, 22/10/2011

Astier Basílio

A cellista Drica vem da Espanha desiludida com a música e disposta a
abandonar sua arte. Seu pai, Zé Medeiros, um industrial, que também é
professor de filosofia, está às vésperas de se aposentar e se vê
diante do dilema de não saber o que fazer após o fim das aulas. O
emblema desta família de perdidos é Seu Né, pai de Zé Medeiros.
Abandonado pela segunda família, sem memória, é acolhido pelos que
abandonou. Para complicar este cenário todo, aparece a bela e
misteriosa Marion, que vai desestruturar os alicerces da família
Medeiros. Assim é Arkáditch (Ideia, 221 páginas), o mais novo romance
do escritor e multi-artista W. J. Solha.

Aos 70 anos, completos em maio passado, Solha já colhe boas recepções
críticas de seu mais recente trabalho. O curioso é que o autor decidiu
não lançar o seu livro. “Sempre me dei mal nos lançamentos, pois não
sei ligar para um amigo que mora lá na caixa-prego, ‘convidando-o’
para aguentar alguns discursos e comprar minha ‘obra’”, diz. Como
ganhou a bolsa Funarte de Criação Literária, no valor de R$ 30 mil,
Solha resolveu não vender esta nova obra. Quem se interessar, pode
pdir por e-mail (wjsolha@superig.com.br) e o autor o envia pelos
Correios.

Na opinião do tradutor, poeta e crítico literário Ivo Barroso,
Arkáditch é um “belo romance policial cult”. Ele acredita que é
possível ler o livro assim. “Gosto de trabalhar o mistério como meio
de manter o leitor comigo até o final do livro”, conta.

Entretanto, com este romance, Solha pretendeu algo mais. “Arkáditch é,
também, um drama urbano - pretendi dar a João Pessoa (como fiz,
também, no Relato de Prócula), uma cara na literatura, algo como Joyce
deu a Dublin e Virginia Woolf a Londres”.

Discorrendo sobre os seus próprios personagens, Solha opina: “Minha
criação mais forte, no romance, por esse lado, é justamente o velho Né
Medeiros, esclerosado, que pensa o tempo todo estar em Fortaleza e que
em nenhum momento reconhece o filho”.

A ação de Arkáditch se passa nos anos 1990, mais precisamente, no
período em que o presidente Collor é destituído do cargo por meio de
um impeachment. O romance também foi escrito naquele período. Falando
sobre o processo Solha diz: “Quando ainda datilografava meus livros,
era fácil dizer quantas versões tinham sido necessárias para chegar à
versão final”. Ratificando a importância dos detalhes, revela:
“Costumo dar meus originais - quando sinto que ainda não estão bons -
a pessoas que respeito no ramo e que me sejam, evidentemente,
acessíveis”. Todavia, Solha reconhece: “Depois disso tudo, você
entrega os originais para a editora, mas não se sente feliz”.

Literatura em primeiro lugar

Em texto sem assinatura, nas orelhas do livro, há uma série de
aproximações entre os personagens e a vida real de Solha. Ao ser
perguntado sobre as relações entre ficção e biografia, Solha recorre a
uma característica bem sua: a citação. “Não à toa Flaubert disse que
Madame Bovary era ele: ‘Madame Bovary c´est moi’. Como faço meu
personagem Zé Medeiros dizer, logo no começo de meu romance, ao dizer
que está fazendo um romance, há uma grande verdade na frase do Templo
de Delfos: ‘Conhece-te a ti mesmo e conhecereis os deuses e o
universo’. O que não significa que faço livros autobiográficos”,
informa. Falando sobre as diferenças, o escritor atesta: “Não conheço
a Rússia, e graças ao fato de ter estudado lá, Zé Medeiros tem todo
seu drama, décadas depois. Nem sou, como ele, professor de filosofia
da UFPB, muito menos – também – usineiro”.

Ator, pintor, dramaturgo, escritor. A qual destas áreas Solha mais tem
se dedicado? “Não se é possível fazer tudo isso bem. Esse é o
problema. Tanto, que deixei o teatro em 1990, a pintura em 2004.
Resolvera, também, não mais participar de filmes, quando recebi
convites irrecusáveis para testes em filmes de Kléber Mendonça Filho -
em que contracenei com Irandhir Santos – e de Marcelo Gomes, no qual
sou pai de Hermila Guedes”, explica.

“O resultado da overdose é que senti, pela primeira vez na vida, o que
é a exaustão total. Somente fui me livrar quase um ano depois. E tive
de interromper, quando estive no Recife, envolvido nesses filmes, o
poema longo a que me dedico há já três anos”, relata. “Mas a verdade é
que tenho feito todas as outras atividades para ter como escrever meus
livros com conhecimento de causa. A literatura - há trinta e tantos
anos - tem sido minha atividade principal”.

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